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quinta-feira, março 01, 2007

Era uma vez...


“E assim seguimos o nosso caminho por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas da Páscoa, que foram 21 de abril, estando da dita ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas (...). Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o Monte Pascoal, e à terra – a Terra de Vera Cruz".
Não são necessárias muitas explicações para se concluir que o trecho acima foi retirado de um dos registros históricos mais simbólicos: a Carta de Pero Vaz de Caminha. Escrita em 1° de maio de 1500, ela representa o primeiro documento descritivo de nosso país, sendo considerada a Certidão de Nascimento do Brasil. E não haveria melhor formar de inaugurar este blog de caráter histórico do que revivendo os escritos que compõem essa relíquia literária. Na carta, Caminha relata todos os detalhes do descobrimento precisamente. Desde os primeiros contatos com os nativos, as características e possíveis riquezas da terra até as mínimas providências tomadas pela frota de Cabral. Ao mesmo tempo, são evidentes o ideal português de propagar o cristianismo aos indígenas e a preocupação mercantilista, como podemos destacar no trecho: “Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem". É surpreendente como desde os primórdios de seu desenvolvimento, o Brasil já é alvo de uma atmosfera em que a ganância e a cobiça egoísta são elementos fundamentais. Porém, nada se compara à nossa realidade atual. Hoje, são os próprios frutos dessa terra – os brasileiros – que a colonizam, a consomem e destroem. A dominação portuguesa foi extinta, entretanto ela persiste nos atos corruptos e desleais de nossos políticos, chefes, conhecidos ou não que habitam essa nação. A clássica Carta de Pero Vaz de Caminha não representa apenas o início de nosso Brasil, mas o início de uma trágica história de terror em que se espera que o mocinho, no final, seja vitorioso.